18/08/2012

A 'descida aos infernos'

No caderno de Economia do semanário Expresso desta semana (18 de Agosto de 2012) é eleito como "figura da semana" o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Este destaque motivado pelo prenuncio do inicio do fim duma crise, que ele entende ser única e exclusivamente obra do Governo anterior,  é ladeado por um texto que mereceu o título que melhor assenta e descreve aquelas que têm sido as políticas deste governo que tomou posse no segundo semestre de 2011 após um "golpe" político que provocou eleições antecipadas: «A 'descida aos infernos'».

Ele descreve, suportado por alguns dados gráficos, com alguma exactidão aquela que é a verdadeira crise que atinge a população portuguesa:
«O desemprego real, se contarmos os inativos que pretendem trabalhar e o subemprego (que têm novos indicadores calculados pelo INE), é superior a um milhão de pessoas. O desemprego jovem atinge já 35,5% e o de longa duração ascende a 8%.
Os dados ilustram bem a crise e as dificuldades que as famílias vivem. Entre o final de 2010 e o final do primeiro semestre deste ano, o número de pessoas a trabalhar mais de 40 horas semanais cresceu de 805,5 mil para 1093,6 mil. Um sinal da necessidade de reforçar o rendimento com mais trabalho. Ao mesmo tempo, neste ano e meio, o total de trabalhadores com um salário inferior a €310 aumentou em 30 mil, ou seja, 25% a mais do que no final de 2010.»

Entre muitas coisas onde este Governo já provou ter-se enganado e ter enganado, outra é de que o aumento da procura de mais trabalho por parte dos portugueses retira qualquer sombra de dúvidas (ainda que as houvesse) sobre a propaganda que este Governo fez quando defendeu em Portugal e na Europa que a falta de produtividade portuguesa se devia ao facto dos portugueses trabalharem pouco e descansarem muito!

Mas infelizmente, para muitas famílias portuguesas, é esta linha do "custe o que custar", pois «Pedro Passos Coelho diz que cumprir o programa da troika não é um fardo pesado nem uma obrigação porque o programa do Governo não diverge muito daquilo que está no memorando de entendimento», que é aplaudida e vista como a solução para todos os males em Portugal.

Gostaria imenso de assistir a Daniel Bessa, que já antes sugeriu o regresso à escravatura em Portugal, explicar ás centenas de milhar de pessoas sem emprego (cerca de um milhãoa sua teoria de que «Portugal está mais pobre, mas voltou a ser uma economia sustentável, não absorvendo mais do que produz»(1).  Talvez os desempregados e aqueles que passam inúmeras dificuldades no seu dia-a-dia possam perceber como tornar a sua sobrevivência sustentável paralelamente ao aumento da sua pobreza!


(1) «Um resultado fantástico», Caderno da Economia, Expresso de 11 de Agosto de 2012

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